O continente africano e a globalização
Eliane Yambanis Obersteiner
Especial para o Fovest
A África é hoje um continente pouco urbanizado, a alimentação se baseia
predominantemente no extrativismo vegetal e na caça, e a população rural
vive em habitações de barro e palha. Conservam-se tradições primitivas e,
embora islamismo, catolicismo e protestantismo estejam presentes entre a
população, o espírito de milhões de africanos é fortemente guiado pelo
animismo.
Todos os países possuem graves problemas sociais básicos como
alimentação, saúde, moradia e educação, a maioria sem perspectivas de
solução a curto e médio prazos. O que a globalização tem a ver com o
continente africano?
O processo de globalização que hoje domina o cenário da economia
internacional caracteriza-se pelo investimento dos grandes capitais em
países de economia emergente, onde a possibilidade de lucro mostra-se
maior. No entanto, nem todas as economias nacionais são alvo de interesse
por parte dos principais investidores.
Nesse contexto, encaixa-se a maior parte dos países africanos, que está à
margem desse processo. Atualmente, o capital disponível para investimento
tem como preferência a América Latina, os países do Leste Europeu e
asiáticos. Isso é um problema para a África, pois, sem esse capital,
dificilmente se desenvolverá, devido à precariedade estrutural em que se
encontra. Do ponto de vista histórico, a vinculação africana ao mercado
internacional foi desastrosa e desorganizadora da economia tribal, já que a
relação dos países economicamente hegemônicos com o continente sempre
foi exploradora e predatória. Durante o mercantilismo, o principal papel
desempenhado pela África em relação ao mercado mundial foi o de
fornecedor de mão-de-obra para o sistema escravocrata.
Na fase contemporânea da história, o interesse europeu volta-se para a
expansão capitalista na forma de um neocolonialismo que submeterá o
continente aos interesses exploratórios de recursos naturais e de mercado.
Quando o colonialismo termina, a independência pouco altera a situação da
população, uma vez que a maior parte dos Estados Nacionais é opressora e
perdulária, dominada seja por civis, seja por militares. Além disso, os
constantes conflitos étnicos colaboram para agravar a situação, gerando
gastos e instabilidade política que retardam ainda mais o desenvolvimento.
Os efeitos de quase cinco séculos de exploração e estagnação justificam o
isolamento africano. A defasagem de seu desenvolvimento social e
econômico é imensa, inviabilizando sua inserção no processo de
globalização.
* Eliane Yambanis Obersteiner é professora de história do Colégio Equipe.
Gostei bastante do Texto.O entendimento das relações neocoloniais existentes do continente africano muito explica as condições atuais dos países africanos. Sem dúvida, debater esses relações dentro da sala de aula é um bom caminho para explicarmos as origens da miséria no continente africano.
ResponderExcluir